Falava há uns dias com um cliente sobre a (falta de) regulamentação na área das oficinas de reparação automóvel. Após algumas trocas de opiniões, chegou-se a uma triste conclusão: esta é uma área de uma quase completa anarquia. Vamos aos factos.

Nas áreas profissionais onde o Grupo J23M atua, a reparação automóvel, e a refrigeração e climatização, há um abismo entre a regulamentação das atividades.

Imagine que quer começar uma atividade como instalador de aparelhos de ar condicionado em residências. Começa por fazer uma certificação em Manuseamento de Gases Fluorados, caso tenha a escolaridade mínima obrigatória. Com o certificado de técnico na mão, pode começar a preparar a certificação da empresa. Com alvarás, equipamentos certificados, e recursos humanos mínimos, está preparado para se propor a uma auditoria que lhe dará acesso a vender o seu primeiro serviço. Todos os anos (ou no máximo de dois em dois), é “acompanhado” pelas entidades certificadoras, de modo a perceber se mantém os requisitos mínimos para continuar a prestar serviços na área. Se “pisar o risco”, é-lhe retirada a certificação, e fica impedido de exercer. Por cada intervenção, o cliente vai pedir-lhe um relatório técnico, a que a entidade certificadora também tem acesso. Resultado: uma atividade onde a mão de obra é bem valorizada, com técnicos muito bem pagos. O cliente paga caro e ainda agradece.

Agora vamos às oficinas.

Tenho uma ideia, invisto uns euros, abro uma oficina. Já não preciso de alvarás pois o licenciamento zero veio facilitar o processo (atenção que o ónus fica totalmente do meu lado caso algo não seja cumprido), tenho algumas obrigações legais quanto ao armazenamento e entrega de resíduos, e pouco mais. Se trabalhar com ar condicionado automóvel preciso de um atestado para comprar gás. De resto, não preciso de cursos, diplomas ou certificados. Apenas ferramentas e equipamentos (muitos, e caros). Abro a porta e começo a reparar automóveis. Resultado: assento o meu negócio em cima de elevados custos fixos, não sei quanto me custa a mão de obra e balizo pela concorrência, e ganho dinheiro com o negócio dos meus fornecedores.

É uma crítica? Sim, mas não às oficinas. 

Devia a reparação automóvel ser como a refrigeração? Sem dúvida.

Iam fechar muitas oficinas? Apenas as que não quisessem evoluir.

Quem ficava a ganhar? Todos. Oficinas, fornecedores de peças e acima de tudo, os clientes.